Dr. Augusto Araújo

Você sabe quando deve-se operar pacientes com pedra na vesícula?

Introdução

A pedra na vesícula, também conhecida como colecistopatia calculosa ou colelitíase, é uma condição comum que afeta a vesícula biliar, um pequeno órgão localizado abaixo do fígado.

Mas para que serve a vesícula biliar? Vamos entender primeiro qual a função desse orgão.

A vesícula biliar tem a função de armazenar e concentrar a bile, um líquido digestivo produzido pelo fígado. A bile por sua vez auxilia na quebra e digestão das gorduras presentes nos alimentos. Portanto a ingestão de alimentos gordurosos estimula a contração da vesícula biliar para essa liberar a bile armazenada para o intestino

Quando essa bile se solidifica, forma cálculos que podem causar uma série de problemas de saúde. Este artigo explora os sintomas, o tratamento e os cuidados necessários para lidar com a pedra na vesícula

O que causa a pedra na vesícula?

Uma dúvida muito comum é quanto a causa das pedras na vesícula (Colelitíase). Essas pedras são formadas na na grande maioria das vezes por sais biliares ou colesterol. Portanto taxas altas de colesterol no sangue favorecem a formação de cálculos, além disso há fatores genéticos associados, portanto é comum encontrar familiares com o mesmo diagnóstico. É mais comum ainda em mulheres após os quarenta anos, principalmente aquelas de já passaram por alguma gestação. A seguir as principais causas:

  • Excesso de Colesterol na Bile: Quando o fígado produz mais colesterol do que os sais biliares conseguem dissolver, ele pode se cristalizar e formar cálculos.
  • Excesso de Bilirrubina: Condições como cirrose hepática, infecções no trato biliar e algumas doenças do sangue podem elevar os níveis de bilirrubina, favorecendo a formação de cálculos pigmentares.
  • Fatores Genéticos: A genética pode influenciar o risco de desenvolver cálculos, e pessoas com histórico familiar de pedra na vesícula têm maior predisposição.
  • Estilo de Vida e Dieta: Dietas ricas em gordura, colesterol e pobres em fibras aumentam o risco, assim como a obesidade e o sedentarismo.
  • Gravidez: O aumento de hormônios na gravidez, especialmente o estrogênio, pode reduzir o esvaziamento da vesícula e aumentar o colesterol na bile.
  • Uso de Certos Medicamentos: Contraceptivos orais e terapias de reposição hormonal com estrogênio podem elevar o risco de cálculos.
  • Doenças Metabólicas: Condições como diabetes e síndrome metabólica estão associadas a um aumento do risco de formação de cálculos.
  • Emagrecimento rápido: Paciente que emagrecem muito rápido como em dieta muito restritivas ou após cirurgias bariátricas por exemplo, podem também formar cálculos biliares.

Sintomas

Os cálculos biliares podem ser assintomáticos em muitos casos, mas quando causam sintomas, podem incluir:

  • Dor Abdominal: A dor, geralmente localizada na parte superior direita do abdômen, pode ser intensa e durar de alguns minutos a várias horas. É comum que a dor surja após refeições ricas em gorduras.
  • Náuseas e Vômitos: A presença de cálculos biliares pode causar desconforto gastrointestinal, levando a náuseas e vômitos.
  • Indigestão e Inchaço: Sensação de inchaço e desconforto após comer, acompanhada de indigestão.
  • Icterícia: Amarelamento da pele e dos olhos, indicando que um cálculo biliar pode estar bloqueando o ducto biliar, impedindo a bile de fluir adequadamente.
  • Febre e Calafrios: Podem indicar uma infecção na vesícula biliar, conhecida como colecistite aguda

Se o paciente apresenta sintomas compatíveis com cálculos biliares, ele deve ser investigado para esclarecer qual o diagnóstico e traçar a melhor estratégia de tratamento.

Diagnóstico

O principal exame diagnóstico nesses casos é a ultrassonografia de abdome, esse exame permite avaliar com precisão a vesícula biliar e definir a presença de cálculos e as principais complicações relacionadas, como a inflamação da vesícula (Colecistite aguda), a pancreatite aguda (inflamação da pâncreas) e a coledocolitíase, que é a obstrução do colédoco por uma pedra.

Além do ultrassom, outros exames podem ser necessários para investigação do quadro, sendo os principais exames:

  • Ultrassonografia Abdominal (USG): O primeiro exame a ser pedido, principalmente por ser eficaz e muito disponível, na maioria dos casos já consegue definir a conduta.
  • Colangiorressonância Magnética (RM): Exame de escolha para investigar coledocolitíase, principalmente quando o USG não consegue visualizar o colédoco, pois permite visualizar o sistema biliar com alta precisão, sem necessidade de contraste iodado.
  • Tomografia Computadorizada (TC): Auxilia em casos de complicações, como abscessos ou pancreatite associada; menos sensível para detectar cálculos no ducto biliar.
  • Colangiopancreatografia Endoscópica Retrógrada (CPRE): Exame diagnóstico e terapêutico, permitindo a remoção de cálculos no ducto biliar, geralmente realizado antes da cirurgia da vesícula quando o paciente possui coledocolitíase.
  • Ultrassonografia Endoscópica (EUS): Alta sensibilidade para detectar cálculos no ducto biliar comum (Colédoco); usado em casos de suspeita de coledocolitíase quando outros exames não são conclusivos, principalmente quando a Colangio-RM não conseguiu identificar a causa dos sintomas.

Tratamento

O tratamento da colecistopatia calculosa depende da gravidade dos sintomas e da presença de complicações.

A colecistectomia, ou remoção da vesícula biliar, é o principal tratamento e o mais eficaz para os casos de cálculo biliar. A cirurgia pode e deve ser realizada de forma videolaparoscópica, que é minimamente invasiva, reservando a cirurgia convencional ou também conhecida como “aberta” para raros casos mais complicados.

Em alguns pacientes assintomáticos e que tem risco cirúrgico muito elevados (idosos, muitas comorbidades) podemos optar pelo tratamento expectante com mudanças na dieta, atividade física e acompanhamento regular do paciente, contudo existe o risco do paciente precisar de uma cirurgia de urgência a qualquer momento.

Para alguns pacientes, medicamentos podem ser prescritos para dissolver os cálculos biliares ou até prevenir a formação deles embora essa abordagem seja menos comum e reservada para pacientes muito específicos.

Após a retirada da vesícula biliar (Com um “X”) as vias biliares destacadas na imagem ficam responsáveis pelo armazenamento da bile.

Após a cirurgia de retirada da vesícula a bile continua sendo produzida pelo fígado e agora passará a ser armazenadas nas próprias vias biliares, o que geralmente causa uma discreta dilatação natural desses ductos sem causar nenhum prejuízo a saúde do paciente, portanto a pessoa consegue viver e se alimentar normalmente após a cirurgia de vesícula, sem restrições ou faltas de vitaminas.

Conclusão

A pedra na vesícula biliar é uma condição tratável, mas que pode causar desconforto significativo e complicações se não for devidamente manejada. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para prevenir problemas graves. Se você estiver enfrentando sintomas de cálculos biliares, é importante procurar orientação médica para determinar a melhor estratégia de tratamento. Com a abordagem adequada, é possível levar uma vida saudável e sem complicações.

Curiosidade:

Você sabia que existem formas simples de evitar pedras na vesícula?

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Leia também: https://draugustoaraujo.com.br/cirurgia-bariatrica/

Referências

  1. Warttig S, Ward S, Rogers G, Guideline Development Group. Diagnóstico e tratamento da doença do cálculo biliar: resumo da orientação NICE. BMJ 2014; 349:g6241.
  2. Festi D, Sottili S, Colecchia A, et al. Manifestações clínicas da doença do cálculo biliar: evidências do estudo multicêntrico italiano sobre colelitíase (MICOL). Hepatology 1999; 30:839.
  3. Ransohoff DF, Gracie WA, Wolfenson LB, Neuhauser D. Colecistectomia profilática ou tratamento expectante para cálculos biliares silenciosos. Uma análise de decisão para avaliar a sobrevivência. Ann Intern Med 1983; 99:199.
  4. American College of Gastroenterology. (2021). Gallstones. Retrieved from [website]
  5. Mayo Clinic. (2022). Gallstones. Retrieved from [website]

Outras fontes de leitura:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK459370

https://www.uptodate.com/contents/approach-to-the-management-of-gallstones?search=colecistopatia%20calculosa&topicRef=662&source=see_link

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